A Propaganda de Isabel dos Santos, George Soros e Eu

Há já vários meses, a consultoria de imprensa portuguesa da Isabel dos Santos, liderada por Luís Paixão Martins, tem estado a tentar desenvolver uma campanha contra mim. A exposição pública dos negócios da filha do presidente, sobretudo como actos de corrupção do seu pai, não têm sido disputados com provas em contrário.

Tentativa de difamação

Uma antiga associação entre mim e a Fundação Open Society, patrocinada pelo bilionário e filantropo George Soros, tem sido usada, revelando desespero de causa, para atingir-me no terreno da moralidade. Esse ensaio tem sido tentado, sem sucesso, pela propaganda do regime em Angola. Todavia, a perfídia com que tal missão passou a ser assumida por um mercador de comunicação português tem muito que se lhe diga, mais pela sua forma obtusa do que pelo seu conteúdo.

Tal tentativa oferece, no entanto, uma oportunidade para revisitar o modo como o regime do presidente Dos Santos não tem olhado a meios para neutralizar o autor. O envolvimento de Soros em Angola é apenas um episódio dessa obsessão oficial, que é o que interessa por ora.

Ademais, em breve, novas revelações de monta sobre a teia de corrupção e negócios da família Dos Santos, particularmente de Isabel dos Santos, deixarão ainda mais fragilizados e vulneráveis, diante da opinião pública, os envolvidos. Certamente aumentarão o seu nível de desespero e o dos seus defensores. Será interessante notar, nessa altura, para além do recurso à violência, bruta ou requintada, que outras estratégias o poder e o dinheiro lhes proporcionarão na sua defesa.

A questão de George Soros é simples. O regime do pai de Isabel dos Santos tem sido o principal beneficiário desse envolvimento. E é justamente por essa ironia fina que vale a pena escrever.

Antes, contudo, é preciso explicar aos leitores o que terá desorientado o relações públicas de Isabel dos Santos. 

Proposta à Forbes


A 11 de Agosto de 2013, Luís Paixão Martins escusou-se a responder às questões colocadas por mim e pela editora Kerry Dolan no âmbito da investigação que realizámos para a revista Forbes sobre Isabel dos Santos. As primeiras perguntas foram enviadas por e-mail em Abril, após anuência da Luís Paixão Martins Comunicações (LPMC).

Num e-mail dirigido a Kerry Dolan, o consultor português apresentou nos seguintes termos a sua condição para responder às perguntas sobre Isabel dos Santos:

“Certamente, caso realmente queira a nossa cooperação para informar os vossos leitores com precisão, uma publicação como a vossa deve trabalhar com um jornalista de negócios, ou um especialista em economia, com experiência de Angola e/ou Portugal; as suas economias, mercados e investimentos; alguém que vos poderia providenciar informação isenta, apolítica e verdadeira. Este não é o caso. Você escolheu trabalhar com um activista político. Você não escolheu trabalhar com alguém independente e com experiência em economia. Tenho o prazer de lhe dar alguns contactos de jornalistas independentes económicos/de negócios que trabalham para publicações reputadas, que se especializam em economia e negócios em Angola, Portugal e países de expressão portuguesa.”

Esta proposta, evidentemente, foi recebida como sendo ofensiva e ridícula. No dia seguinte, tendo sido mais uma vez avisado de que o artigo seria publicado de qualquer modo, Luís Paixão Martins acabou por responder a algumas questões, reafirmando, no entanto, a sua oferta anterior a Kerry Dolan:

“Qualquer jornalista português com experiência em negócios, pode ajudá-la na identificação de fontes. Infelizmente, você escolheu trabalhar com um activista político. Você escolheu não trabalhar com alguém com conhecimentos em economia. Como disse antes, tenho o prazer de lhe dar alguns contactos de jornalistas independentes económicos/de negócios que trabalham para publicações reputadas, que se especializam em economia e negócios em Angola, Portugal e países de expressão portuguesa.”

Sobre a forma como a LPMC pode dispor de jornalistas portugueses para escreverem sobre a sua cliente é algo que apenas diz respeito à comunicação social portuguesa e à opinião pública local.

A investigação foi publicada na edição da Forbes de 3 de Setembro de 2013  e teve perto de 393,000 visualizações online.

Caprichosa, Isabel dos Santos, entretanto, adquiriu os direitos de publicação da Forbes para Portugal e para países africanos de expressão portuguesa. Deste modo, a Forbes reconquistou a sua reputação no universo comandado por Isabel dos Santos.

No entanto, a Forbes publicou mais tarde nova investigação sobre como Isabel dos Santos adquiriu a joalharia suíça De Grisogono e passou a controlar o mercado de diamantes em Angola, por via de uma parceria ilícita com a empresa estatal de comercialização de diamantes, a Sodiam S.A. Tudo isso através dos actos corruptos do pai, o presidente José Eduardo dos Santos. Sem argumentos de defesa capazes de limpar o nome de Isabel dos Santos, foi então engendrada uma conspiração internacional, com George Soros à mistura.

Vamos então ao caso Soros.
 

O Encontro

Em 1997, aquando de um jantar em que eu estava presente, juntamente com perto de outros 40 convidados, incluindo personalidades muito importantes da África do Sul, George Soros era o convidado de honra. Após ter feito o seu discurso, Soros disse à audiência, de improviso, “agora chamo o meu amigo Rafael Marques”, afirmando que eu partilharia as minhas ideias sobre Angola e o papel da sociedade civil.

Recusei-me a falar. Não fazia parte do programa e eu não estava preparado. Tinha sido apenas convidado para jantar. Senti-me honrado quando soube que tinha sido colocado na mesa de George Soros. Foi aí que o conheci, e conversámos durante algum tempo, sobre assuntos genéricos.

Pouco depois, George Soros voltou a sentar-se à mesa e, sem desanimar com a minha recusa, disse-me que me tinha oferecido uma grande oportunidade e que cabia a mim, apenas, aceitar ou recusar. Mudei de ideias. Dirigi-me ao palanque e defendi a ideia de que a democracia só funciona quando alicerçada no ensino, a começar pela educação primária, e manifestei o meu desencanto com o modus operandi das organizações internacionais pela superficialidade dos seus programas de apoio à democratização e à luta pelo respeito dos direitos humanos. Insisti na educação.


Aposta na Educação

Para minha surpresa, passados dois meses, recebi a visita de Terrice Bassler, especialista em educação da Open Society, vinda de Nova Iorque. A então vice-ministra Francisca do Espírito Santo proporcionou-nos um encontro e organizou uma visita ao Bengo, na qual incluiu altos funcionários do seu ministério.

Durante dois anos, e até este encontro entre mim e Terrice Bassler, a Open Society tinha tentado estabelecer-se em Angola sem sucesso.

Em menos de dois meses, estabeleceu-se um projecto-piloto para a capacitação de professores primários no Bengo e nos arrabaldes dos municípios de Cacuaco e Viana, em Luanda. Com uma dotação inicial de US $250,000, destinados à educação apenas, a organização pediu-me para representá-la interinamente em Angola, durante alguns meses, até à contratação de um director. Acabei por ficar seis anos, renovando o contrato todos os anos.

Durante mais de um ano, o escritório dessa organização multimilionária foi a minha sala de jantar, de modo a minimizar os custos administrativos.  

Até à minha saída, em finais de 2004, em colaboração com o Ministério da Educação, a Open Society capacitou mais de 4,500 professores primários, sobretudo no Bengo, em Luanda e no Kwanza-Sul. Estendeu os seus seminários de formação de formadores às províncias do Uíge, Moxico e outras. A determinada altura, o orçamento para o projecto de educação ascendeu a US $500 mil anuais. Todo o pessoal do projecto de educação provinha do Ministério da Educação, em regime de colaboração. Após o termo das suas funções como coordenadora do projecto de Educação da Open Society, em 2004, Luísa Grilo assumiu as funções de directora nacional do Ensino Geral do Ministério da Educação, cargo que mantém até à data presente.

 

Prisão
 

Após a minha detenção, a 16 de Outubro de 1999, por ter escrito o “Batom da Ditadura”, levantaram-se vozes internamente, ao nível do Ministério da Educação e do MPLA, a exigir o fim do projecto. A iniciativa era apresentada como uma manifestação de lealdade e solidariedade para com o presidente da República, que ordenou a minha detenção por se ter ofendido com o texto que o caracterizava como ditador e corrupto. Outras vozes, no entanto, dignaram-se a defender os méritos do projecto e a separá-lo das minhas opiniões pessoais. O “Batom da Ditadura” tinha sido uma resposta aos insultos do deputado João Melo. Eu promovera uma iniciativa de apelo ao cessar-fogo em Angola a que João Melo chamou de “heresia”.

Tal era a lealdade ao pai de Isabel dos Santos, que os meus captores apontaram-me sete armas, quando abri a porta de casa, incluindo uma pistola pressionada contra a minha têmpora. Fui encarcerado em condições sub-humanas. Foi nessa altura que vivi a realidade dos abusos contra os direitos humanos. Ao invés de fraquejar, indignei-me. Estabeleci um sistema de denúncia dos casos mais graves com os quais ia tomando contacto na cadeia.

Durante a minha detenção, George Soros engajou-se pessoalmente, para além da sua rede de fundações, para conseguir a minha libertação. Soube, mais tarde, que telefonara a dois estadistas africanos, que mantinham boas relações com Angola, para além de outros dignitários. Houve várias estratégias de pressão. Até em Portugal, para além do apoio incondicional de Mário Soares, a própria Assembleia da República abordou o caso, por iniciativa do Bloco de Esquerda.

Internamente, a pressão também era significativa. Na altura, o então presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, o arcebispo D. Zacarias Kamwenho, foi visitar-me à Cadeia de Viana, na companhia de outros bispos. O próprio presidente José Eduardo dos Santos, e este facto é aqui revelado publicamente pela primeira vez, teve a iniciativa de enviar também um emissário seu à cadeia, para saber do meu estado de saúde.

Quando saí do estabelecimento prisional de Viana, tinha dossiês até de casos de escravatura a que estavam sujeitos vários condenados, obrigados a trabalhar nas quintas privadas de certos dirigentes. Denunciei o caso de um jovem que se encontrava em prisão preventiva havia 15 anos. Centenas de presos tiveram de ser libertados por excesso de tempo cumprido em prisão preventiva. Este estabelecimento prisional encerrou para obras pouco tempo depois. Passaram a chamar-me activista dos direitos humanos. Tenho o maior orgulho em defender os direitos dos meus concidadãos, assim como tenho o maior orgulho em expor aqueles que saqueiam o país sob o comando de José Eduardo dos Santos. A corrupção institucionalizada em Angola também configura uma grave violação dos direitos dos cidadãos por privação de direitos económicos e sociais.

 

Democracia e Direitos Humanos
 

Os projectos de apoio da Open Society à comunicação social, à democracia e aos direitos humanos acabariam por ter maior visibilidade devido à sua mediatização, apesar de terem sido sempre secundários em relação à educação. Durante os meus anos de liderança, todos os outros projectos juntos nunca tiveram um orçamento superior ao da educação. Logo, o governo foi o maior beneficiário dos financiamentos da Open Society.

As conferências tinham sempre a cobertura em directo da Rádio Ecclésia, o que permitia contribuir para o alargamento do espaço de debates públicos sobre temas candentes da sociedade. O Semanário Angolense, sob direcção de Graça Campos, publicava sempre suplementos com os contributos e resultados das conferências. Também publicou, em suplemento, os relatórios sobre a violação dos direitos humanos em Cabinda. Os dirigentes do MPLA participavam desses encontros.  

George Soros e o Pai de Isabel dos Santos

Quando a equipa de comunicação de Isabel dos Santos procura associar-me a George Soros de forma negativa, escamoteia factos relevantes da relação entre o próprio regime e Soros.

Essa relação começou com uma grande estratégia arquitectada e liderada por Carlos Feijó, então consultor do presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Manuel Vicente, e do próprio presidente da República.

A estratégia de Carlos Feijó aconselhava o presidente a optar por uma política de aproximação a George Soros, como forma efectiva de me neutralizar. Supunha-se que, sem a cobertura institucional e financeira da Open Society, eu deixaria de ser uma preocupação para o presidente.

O presidente aprendera uma lição. A brutalidade da minha detenção e o meu julgamento acabaram por fortalecer as minhas convicções, causando mais danos à sua imagem, quer no país, quer no exterior.

De acordo com a linha de pensamento de Feijó, eu passaria a ser apenas vítima da frieza dos interesses económicos de Soros e não da astúcia do regime. A iniciativa incluía o meu isolamento de potenciais focos de apoio ou de relacionamento com o exterior, como embaixadas ocidentais e ONGs internacionais com quem eu mantinha boas relações. Nessa altura, um embaixador português foi ao extremo de convocar uma conhecida e influente figura do MPLA com quem eu mantinha grande proximidade. O embaixador português solicitou-lhe que pusesse fim à relação de amizade comigo, caso contrário deixaria de receber convites das embaixadas ocidentais, teria problemas com vistos e passaria a ser ostracizado pela comunidade internacional. As “sanções”, afinal, eram combinadas. Também era essencial o isolamento interno: reduzir o visado à condição de miserável, sem meios de subsistência, constituía um anexo da estratégia.

Dos Santos aprovou a estratégia.

Manuel Vicente e o então ministro das Finanças, José Pedro de Morais, passaram a ser os executores da política de aproximação a George Soros, aos quais se juntou o embaixador nas Nações Unidas, Ismael Martins.

Dos contactos iniciais mantidos com essas entidades, George Soros informou-me pessoalmente por telefone. Sem rodeios, disse-me também que pediam a minha demissão para facilitar a expansão da Open Society em Angola, e para o desenvolvimento de projectos conjuntos de transparência e direitos humanos. Numa dessas conversas, os indivíduos que faziam a escuta telefónica desligaram seis vezes a chamada, após algumas interferências verbais na conversa. Soros parodiava com a situação e insistia em ligar novamente.

Entretanto, o vice-presidente da Open Society, Stewart Paperin, já tinha visitado Angola duas vezes, para encontros com o governo, sem que eu tivesse tido conhecimento. Desses encontros resultaram a elaboração de um memorando de entendimento entre a Fundação George Soros, a Sonangol e o Governo de Angola.

O memorando previa assistência técnica e financeira da Open Society ao governo e à Sonangol para a implementação de reformas acordadas. Essencial, como sempre para o governo: os entendimentos incluíam iniciativas destinadas a melhorar a imagem do governo e da Sonangol no exterior, para promover um maior acesso aos mercados internacionais de capital, etc.

Fonte da presidência da República informou a Rádio Voz da América (VOA) acerca da minha demissão da Open Society, justificando-a como parte dos entendimentos celebrados com Soros. Tomei conhecimento da notícia da VOA , em Washington, onde chegara um dia antes para uma palestra.

Fui a Nova Iorque falar directamente com Soros, que me convidou para ir tomar o pequeno-almoço consigo no seu apartamento. Estava presente Stewart Paperin. Soros foi muito claro sobre tudo o que tinha sido negociado e ofereceu-me US $500,000 para que a estratégia de isolamento do governo não me deixasse na penúria. Recusei prontamente. Fi-lo da mesma forma que recusei também a oferta da assessoria jurídica de José Eduardo dos Santos para que não houvesse julgamento, em 2000, juntamente com a suposta felicidade e riqueza que eu encontraria no exterior do país. 

Expliquei a Soros que o governo não honraria a sua palavra. Ele disse-me que era um risco que valia a pena correr.

Stewart Paperin interveio, chamando-me o “mau da fita” e considerando-me um empecilho ao crescimento e à expansão da Open Society em Angola. A partir dali, percebi que não havia mais nada para discutir. Soros repreendeu o seu vice-presidente por esta intervenção, desculpou-se e terminámos o pequeno-almoço.

Como se esperava, não houve assinatura do memorando de entendimento. Todavia, os homens do presidente tinham outra carta na manga. Dos Santos receberia George Soros como seu convidado especial no Congresso do MPLA, realizado de 6 a 9 de Dezembro de 2003. Manuel Vicente tinha o jacto executivo da Sonangol pronto para transportar o bilionário da Cidade do Cabo até Luanda.

Entre as várias tentativas para demovê-lo da ideia, dois altos dirigentes do MPLA e o actual presidente da UNITA, Isaías Samakuva, paralelamente, intervieram junto de Soros para abortar a sua iminente visita a Angola. Era também do interesse de sectores influentes do MPLA e da oposição o papel catalisador da Open Society junto da sociedade civil, na promoção de espaços de debate para a realização da democracia participativa.

A viagem de Soros acabou mesmo por não se realizar. No entanto, o presidente da sua fundação, Aryeh Neier, visitou Luanda para falar apenas com a sociedade civil, prestar-me solidariedade e reafirmar a minha manutenção no cargo.

A partir dessa data, a estratégia passou a ser sub-reptícia e executada pelo escritório regional, Open Society Initiative for Southern Africa (OSISA), baseado na África do Sul.

Em Maio de 2004, a Open Society patrocinou o colóquio “Angola na Encruzilhada do Futuro”, que teve lugar em Lisboa, em Maio de 2004, na Fundação Mário Soares, e onde o MPLA se fez representar. O secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais do Bureau Político do MPLA, o deputado João Martins, também foi prelector.

Obviamente, o presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, autorizara esta participação. A estratégia tinha sido revisitada.

Passado um mês, em Junho de 2004, solicitei a minha demissão. Recusei a proposta de acomodação no conselho de administração da OSISA, bem como uma bolsa de estudos que incluía a manutenção do meu salário e outras alternativas. Acreditei que, com a vitória da estratégia presidencial, poderia finalmente dedicar-me a outras tarefas. Pediram-me para ficar mais seis meses , de modo a assegurar a transição.

Nessa altura, estava empenhado no projecto de monitoria da violação dos direitos humanos na região diamantífera das Lundas. A OSISA cancelou o projecto abruptamente como forma de impedir a produção do relatório e sobrecarregar-me financeiramente com os compromissos então assumidos. “Lundas: As Pedras da Morte”, que escrevi em co-autoria com o advogado português Rui Falcão de Campos, acabou por ser lançado em Angola, Portugal e nos Estados Unidos. Não lamentei o facto de ter gasto, do meu próprio bolso, cerca de US $30,000 para honrar os compromissos então assumidos. Angola é o meu país.

Incluí a Open Society nos agradecimentos da obra. Em Fevereiro de 2005, cheguei a Washington, para o lançamento do relatório no Woodrow Wilson Center, sem dinheiro para pagar o hotel. Exasperada, a então vice-presidente da Open Society Institute, em Washington, Deborah Harding, decidiu apoiar-me pessoalmente e providenciou a minha acomodação em casa de uma sua amiga, no coração de Georgetown. Desde então, uma mão-cheia de amigos têm feito toda a diferença.

Depois desse acto de sabotagem, nunca mais tive qualquer tipo de contacto institucional com a rede de fundações de George Soros ou o seu patrono.

 

A Influência do Petróleo e a Propaganda sem Gás


Em 2009, durante as minhas investigações, percebi melhor a manutenção da relação de Soros com o poder angolano. Soros tornara-se no principal acionista da Cobalt International, uma empresa petrolífera americana basicamente criada com investimentos da Sonangol.

A Cobalt associou-se a duas empresas-fantasma angolanas, a Nazaki Oil and Gas e a Alper Oil, na prospecção dos blocos 9 e 21, de forma corrupta. A primeira é propriedade do triunvirato Manuel Vicente e os generais Manuel Hélder Vieira Dias Kopelipa e Leopoldino Fragoso do Nascimento – o testa-de-ferro do pai de Isabel dos Santos. A segunda tem como último beneficiário Manuel Vicente.

O general Leopoldino Fragoso do Nascimento, que foi o chefe de comunicações do presidente, afirma-se hoje publicamente, no seu website, como o criador da UNITEL.

Luís Paixão Martins cai no seu próprio embuste ao procurar fazer conjecturas sobre a suposta participação de Soros no negócio da UNITEL, através da Portugal Telecom. Na fértil imaginação da assessoria de imprensa de Isabel dos Santos, Soros conspira comigo para tentar impedir a venda das acções que a Portugal Telecom (PT) detém na UNITEL. Isabel dos Santos quer a PT fora do negócio. Isabel dos Santos usou a mesma estratégia para afastar o empresário Américo Amorim da parceria que detinham na cimenteira angolana Nova Cimangola, em 2010.  A voracidade da filha do presidente estende-se também à participação societária de 25 porcento que Américo Amorim detém no Banco BIC, de direito angolano, como foi anunciado há dias pela imprensa portuguesa. A filha de José Eduardo dos Santos tem igual capital no referido banco e quer as quotas de Amorim. Serão também conspirações de Soros e Rafael Marques?

Em 2009, publiquei uma investigação detalhada sobre os negócios do triunvirato, intitulada “Presidência da República: O Epicentro da Corrupção em Angola” 

Aí revelei o cruzamento de negócios de George Soros com o poder angolano.

Este artigo deu origem a uma investigação nos Estados Unidos contra a Cobalt, por suspeita de corrupção de dirigentes angolanos. George Soros acabou por vender as suas acções desta empresa em Junho de 2010, tendo desfeito com celeridade a sua associação à nomenclatura angolana por via de tal negócio. Vendeu por US $31 milhões as acções que tinha comprado por US $81 milhões.

A forma como se tenta usar a minha relação com George Soros fez-me lembrar uma entrevista na rádio Luanda Antena Comercial (LAC), há muitos anos atrás. O José Rodrigues tentou “grelhar-me”, no programa “Café da Manhã”, sobre como a minha relação de amizade com Mário Soares como um acto de lesa-pátria. Respondi que, se tal fosse o caso, então maior crime estavam a cometer os assessores do presidente e outros dirigentes que tinham os seus filhos a estudar no colégio privado da família Soares em Lisboa. Fez-se logo um intervalo, para que eu não mais tocasse no assunto. Na realidade, nada mais tinha a dizer, porque nunca revelaria a identidade dessas figuras: que dessem a melhor educação possível aos seus filhos.

Há, contudo, uma explicação para esta campanha promovida contra a minha pessoa pela assessoria de Isabel dos Santos. A mediocridade do presidente e da elite que o adula só se pode afirmar como o que há de melhor em Angola por meio da negação e anulação da consciência individual e da dignidade do outro – aquele que se nega a fazer parte do esquema ou é excluído.

Sempre acompanhei as estratégias intramuros contra mim e contra o meu trabalho. Percebi a paranóia que provoco no seio do regime, ao ponto de merecer a mobilização de tantos recursos contra aquilo que faço e que continuarei a fazer.

Actualmente, a vigilância, o controlo e a observação visual da minha pessoa, dentro e fora do Angola, foi elevada ao nível máximo. O regime persegue uma ideia que julga estar a ser polida na minha consciência.

Isabel dos Santos desconhece, todavia, aquilo em que está a meter-se, e não tardará a perceber que a sua assessoria de comunicação está, na realidade, a expô-la a ventos fortes.

 

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