Dissidência no MPLA: Partido Deve Dissociar-se de José Eduardo dos Santos

“O presidente do partido e chefe de Estado [José Eduardo dos Santos], registando uma impopularidade recorde, pelas suas desinteligências, conota o partido e arrasta na sua queda certos inocentes do MPLA.” Assim se pronuncia Ambrósio Lukoki, membro do Comité Central do MPLA, em conferência de imprensa um dia antes do início do congresso do MPLA, em Luanda.

O embaixador Ambrósio Lukoki faz parte do Comité Central do MPLA há mais de 40 anos. Esta sua mensagem — dirigida aos colegas e militantes do MPLA, mas também à Nação — será muito provavelmente o momento mais importante do conclave do partido no poder. As declarações de Lukoki denunciam a dissidência que brota no interior do partido contra o seu líder, a qual poderá crescer nos próximos tempos, em favor da mudança.

Dias antes da conferência de imprensa, Lukoki solicitara que eliminassem o seu nome da lista de candidatos a membros do Comité Central. Para este dirigente, não faz sentido permanecer no Comité Central por este não cumprir com a sua função. No congresso, José Eduardo dos Santos coloca dois dos seus filhos, José Filomeno dos Santos e Welwitschea dos Santos, como membros do Comité Central.

O nacionalista Lukoki insurgiu-se ainda contra a falta de democracia que impera no seu partido, onde, nas suas palavras, predomina uma “prática errada, nociva e contínua, que caracteriza a actual direcção do partido MPLA”.

Por quanto mais tempo será possível o regime “evitar ou esmagar ondas de protesto” ou , em última instância, compreender os sinais do tempo e acolher as críticas que lhe são dirigidas, questiona o embaixador.

Segundo ele, é imperativo inverter a actual tendência do partido, que continua a manifestar-se como “um partido-Estado”, mas que se está a “afundar”.

Lukoki fala mesmo num “espírito de revolta ou de insurreição silenciosa” que se está a espalhar pelo país.

Conhecido pelas suas críticas frontais ao presidente José Eduardo dos Santos, em reuniões do MPLA, o dirigente refere, de forma cáustica, que o país precisa de autoridade e de ética, e não de “dirigentes postiços”, denunciando os seus colegas que se portam apenas como yes men [os “sim, chefe”].

Ainda de acordo com as suas declarações, a actual popularidade do MPLA, demonstrada por via das suas actividades de massas e da propaganda, é “enganosa” e está a “derreter”. A impopularidade é o preço que o MPLA está a pagar pelo servilismo em relação a José Eduardo dos Santos, a quem o partido serve de mero instrumento ou trampolim e sobre o qual ele exerce o absolutismo, argumenta Lukoki.

Para ele, a mensagem é clara. Não é José Eduardo dos Santos quem deve abandonar o poder e a presidência do partido, de acordo com a sua vontade. Deve ser o MPLA a emitir-lhe guia de marcha. “Enquanto o partido MPLA não se dissociar do Eng. José Eduardo dos Santos, não poderá reconquistar as suas características de partido de vanguarda”, afirma.

Por ora, diz Lukoki, o MPLA “não é peixe nem carne”, pelo que é necessário que os camaradas do MPLA tenham “força, coragem e sabedoria” para que, juntos, combatam, ao nível das ideias, em defesa da liberdade e da justiça em Angola.
Veremos se o MPLA — e, diríamos mais, a nação angolana em geral — encontra em si os recursos necessários para a mudança democrática.

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