Milícias pró-Dos Santos Atacam

Um grupo de cerca de 15 indivíduos afectos às milícias pró-governamentais, armados com pistolas, catanas e varas de ferro, atacou esta noite o núcleo de jovens que tem liderado a organização de manifestações anti-Dos Santos, desde Março de 2011.

Pouco depois das 22 horas, os atacantes irromperam, de surpresa, pela residência do rapper Casimiro Carbono, no Bairro Nelito Soares, em Luanda, onde se encontravam reunidos dez jovens.

De pistolas em punho, os atacantes espancaram violentamente Gaspar Luamba, Américo Vaz, Mbanza Hamza, Tukayano Rosalino, Alexandre Dias dos Santos, Jang Nómada, Massilon Chindombe, Mabiala Kianda e Explosivo Mental. O anfitrião, Casimiro Carbono, escapou aos ataques por ter saído pouco antes para atender a um telefonema.

Afonso Mayanda “Mbanza Hamza”, de 26 anos, explicou como os agressores, mal abriram a porta, executaram, de forma profissional e rápida, os ataques. “Bateram-me com uma vara de ferro na cabeça e em todo o corpo, e apontavam as pistolas para não reagirmos à pancadaria”, disse Mbanza Hamza. O jovem sofreu fracturas na cabeça, levando 12 pontos, e no braço direito.

Gaspar Luamba também foi severamente atingido na cabeça com vara de ferro, tendo levado oito pontos, e ficou com os membros inferiores fracturados depois da pancadaria. Um dos delinquentes pró-regime também assestou uma barra de ferro na cabeça de Jang Nómada, causando-lhe um grande ferimento, para além da violência que sofreu em todo o corpo.

Por sua vez, o rapper Jeremias Manuel Augusto “Explosivo Mental”, de 25 anos, ofereceu resistência aos ataques na cabeça e acabou com os braços inflamados, um dedo da mão direita fracturado, e hematomas por todo o corpo.

Massilon Chindombe, que procurou refúgio no quarto, contou como um dos assaltantes lhe apontou a pistola quando tentava fechar a porta. “Gritámos que estávamos a chamar a polícia e ele riu e respondeu ‘qual polícia’?” O activista conta que, após o ataque, levaram as vítimas ao Hospital Américo Boavida. “O Luamba e o Mbanza Hamza perderam muito sangue e estavam semiconscientes. No hospital, um dos enfermeiros começou a suturar o Luamba sem anestesia ou cuidados básicos de higiene. Tivemos de ir para uma clínica privada”, explicou.

Esta é a segunda vez que as milícias invadem a residência de Carbono Casimiro. A primeira vez aconteceu a 9 de Março passado, tendo os agressores atacado, com barras de ferro, o anfitrião, os activistas Liberdade Sampaio, Catumbila Faz-Tudo “Caveira”, Nelito Ramalhete e António Roque dos Santos. Estes planificavam um protesto anti-Dos Santos para o dia seguinte. A 10 de Março, os atacantes dispersaram violentamente uma concentração de cerca de 30 manifestantes no Tanque do Cazenga, em Luanda, tendo causado sérios ferimentos, entre outros, ao rapper Luaty Beirão “Ikonoklasta” e ao secretário-geral do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, que teve de ser operado na Alemanha. A Televisão Pública de Angola (TPA) deu amplo espaço, a 12 de Março, a um suposto “Grupo de Cidadãos Angolanos pela Paz, Segurança e Democracia na República de Angola”, que reivindicou os ataques e prometeu mais actos de violência contra todos aqueles que se manifestem contra o regime.

A censura e o controlo da informação na TPA são monitorados de forma minuciosa pelo Executivo do presidente José Eduardo dos Santos: assim, a leitura de um comunicado em que um grupo desconhecido se vangloriava de ter cometido um crime em circunstância alguma teria passado sem o aval das autoridades. Os extremistas pró-governamentais inspiraram-se no modelo de comunicados de organizações fundamentalistas árabes para transmitirem a sua imagem de terror.

Ao retirarem-se do local do crime, as milícias, segundo várias testemunhas oculares, efectuaram três disparos para afugentar a vizinhança que se começava a reunir na rua, e fizeram-no a partir de viaturas Land Cruiser alegadamente atribuídas a oficiais da Polícia Nacional. Em várias manifestações reprimidas pela Polícia Nacional, o grupo de agressores realizava sempre os seus actos de violência com protecção policial. Alguns dos seus membros são reconhecidos como oficiais desta corporação.

Desde a passada segunda-feira, os organizadores das manifestações contam com um programa radiofónico bissemanal na Rádio Despertar, onde pretendem promover a liberdade de expressão e falar de protestos. Segundo Carbono Casimiro, a reunião que sofreu o ataque “visava traçar novas estratégias para o nosso programa de rádio, e estávamos também a discutir outros problemas de organização interna e projectos”. A Rádio Despertar emite desde 2006, como parte dos Acordos de Paz que permitiram à UNITA a transformação da sua então estação emissora Voz do Galo Negro (Vorgan) em rádio comercial. Esta emite em Luanda apenas, em Frequência Modelada (FM), e tem vindo a aumentar a audiência devido à sua linha editorial marcadamente anti-regime.

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